Parentalidade Consciente
Facilitadora de Parentalidade Consciente
Inevitavelmente, ao longo da minha prática clínica com adultos e jovens adultos, os temas da infância acabam sempre por estar presentes. Os estilos parentais, a vinculação, a promoção ou não de uma autoestima saudável. Aquela voz internalizada que nos diz sermos capazes ou não, suficientes ou não, acaba por nos acompanhar até à idade adulta.
Parentalidade
- mais do que um estilo parental
- adultos e crianças de igual valor
- do comportamento para a necessidade
- da educação para a relação
Por estes motivos, porque sempre considerei que formar um ser humano é das tarefas mais desafiantes, e também porque senti muito essa necessidade quando me tornei mãe, fui aprofundando cada vez mais temas relacionados com a parentalidade.
E foi assim que me cruzei com os livros da Micaela Övén e descobri a Academia de Parentalidade Consciente, onde fiz a minha formação como Facilitadora de Parentalidade Consciente.
Vou recorrer a algumas questões que habitualmente me colocam sobre o tema, e que considero resumirem os aspetos centrais, para lhe falar um pouco sobre o que é isto da Parentalidade Consciente.
Parentalidade Consciente
Questões Comuns
A Parentalidade Consciente é mais do que um estilo parental. É uma forma de estar na relação connosco e com os outros, em que todos são vistos como detendo o mesmo valor, adultos ou crianças, em que as minhas crenças, aquilo em que eu acredito, são tão válidas como as crenças do outro; em que respeito o outro por aquilo que ele é, com as suas ideias, pensamentos, sentimentos, limites físicos; em que sou autêntica, ou seja, sou capaz de exprimir aquilo que quero e o que não quero, aquilo que preciso, e em que me responsabilizo por mim mesma, pelas minhas emoções e pelas minhas necessidades, não passo essa responsabilidade ao outro.
Uma relação consciente baseia-se, portanto, nos princípios de igual valor, respeito pela integridade, autenticidade e responsabilidade pessoal.
Não. Os bebés e as crianças estão a conhecer o mundo, estão a conhecer-nos a nós e a eles próprios. Eles não têm aquela abordagem que tantas vezes lhes atribuímos de “hoje vou testar os teus limites!”. A criança está à procura de conexão, está à procura de saber quem está à sua frente, está a tentar aprender.
Só de mudar esta forma de olhar para a criança, muda logo o nosso mindset. A nossa postura já não tende a ser reativa ou defensiva.
Eu posso fazer um trabalho espetacular na passagem de valores que considero importantes e que pretendo transmitir para o meu filho.
Posso ter o dom da oratória, mas se eu agir de uma forma que não vai ao encontro do que estou a transmitir, acredite, pouco ou nada do que eu disse entra.
Aquilo que mais lhes fica é o que veem, o exemplo de pessoa que lhes dou (para o bem e para o mal), a minha forma de estar e de gerir as situações, de lidar com as pessoas.
Nós somos os modelos dos nossos filhos e podemos servir de guias para as nossas crianças aprenderem a gerir, nomear e exprimir as suas emoções.
Na Parentalidade Consciente, baseando-se em Neurociência e na Teoria Polivagal, sabemos que, num momento do chamado “mau comportamento” extremo, as chamadas “birras”, a criança não tem a capacidade de se “portar bem”. A capacidade que a criança tem de se regular está indisponível. O sistema nervoso da criança encontra-se num estado no qual a criança não tem a capacidade de se autorregular.
Nesta situação, o nosso objetivo deve ser ajudar a criança a sentir-se bem e não julgá-la, castigá-la, nem corrigir o seu comportamento.
O “mau comportamento” é apenas uma expressão de uma incapacidade de regulação.
Se eu usar aquela estratégia do “cantinho para pensar”, do “agora vais para ali pensar naquilo que fizeste”, eu vou estar a deixar a criança no vazio. Ela não está a conseguir lidar com o que está a acontecer dentro dela e eu mando-a ir para um canto pensar. Neste momento, a parte do cérebro pensante nem sequer está acessível. Ela precisa realmente é de sentir que estamos ali para ela, para ajudá-la a expressar o que sente, a atribuir-lhe significado e a satisfazer a necessidade que está por detrás daquele comportamento (atenção que isto não significa “fazer as vontades todas”, falo de outro tipo de necessidades).
Palmadas então, entram naquilo a que chamamos “formas de desamor”. Não só não vem dali nenhuma vantagem em termos de relação, como estamos a condicionar o comportamento da criança através do medo. Se estiver num momento de desregulação, estamos a deixar a criança ainda mais desorientada e desorganizada.
Estou a passar a ideia de que ela é o que faz. Até aos 9 anos de idade as crianças têm dificuldade em separa-se do seu comportamento, ou seja, quando digo “o que fizeste é mau!” para ela é como se eu estivesse a dizer “tu és má!”. Que é completamente diferente de eu mostrar curiosidade, interesse por perceber e acolher o que está por detrás daquele comportamento.
O comportamento é apenas “um sintoma”, uma manifestação de uma necessidade que não está satisfeita. E as crianças estão a aprender a expressar as suas necessidades. Precisam muitas vezes que sejamos nós a mediar essa expressão, a ajudá-las nesse processo.
Se em vez de “tu és má” eu disser “ajuda-me a perceber o que precisas. Estás zangada? É natural que por vezes fiques zangada”, estou a promover essa aprendizagem.
Sinto que a maior dos pais está farta de se sentir permanentemente culpado por tudo e mais alguma coisa.
Acho que percebendo a abordagem, muitos mais adultos, muitos mais pais, estarão disponíveis para ouvir falar em Parentalidade Consciente. Será mais uma questão de estarem disponíveis e lhes fazer sentido ouvir, saber mais, porque em termos de preparação, estamos a falar de uma abordagem, de uma forma de estar na vida, que é um processo ativo de desenvolvimento pessoal, que vai acontecendo a cada dia.
Muitas pessoas falam nessa questão, do ser difícil, que implica tempo que nós não temos. Mas sinceramente, acho que pode ser bem mais fácil do que aquilo que se pensa numa primeira abordagem.
Ao ter uma relação de qualidade com o meu filho, em que o trato com igual valor, em que sou autêntica e em que, portanto, ele tem mais vontade de colaborar comigo, mais depressa vou conseguir revolver uma série de situações do dia a dia, do que se o tratasse de uma forma autoritária, em que possivelmente resultaria numa “birra” (eu não gosto do termo), mais difícil de gerir, que me faria sim perder mais tempo ou ficar num estado de humor muito mais alterado, pelo mau ambiente que se gerou.
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