Ao intervir em áreas como trauma e ansiedade, o meu interesse pela parentalidade foi aumentando cada vez mais. O poder protetor, ou pelo contrário vulnerabilizante, das nossas experiências precoces, fez-me querer intervir em áreas que podem atuar como prevenção. Quando engravidei, a paixão pela área aumentou, compreensivelmente, ao mesmo tempo que aumentava também em mim a necessidade de ter mais formação, para poder dar resposta às questões que me eram trazidas por pais e futuros pais. Ler sobre parentalidade levou-me a perceber que a abordagem que me faz mais sentido, entanto mãe e psicoterapeuta, é a da Parentalidade Consciente.

O adulto assumir a responsabilidade pela criação e manutenção de uma relação de qualidade com as suas crianças, conceitos como igual valor, foco na relação, tomada de consciência do que fazemos por automatismo e/ou por nos ser imposto socialmente, em contraste com aquilo que realmente pretendemos e nos faz sentido para a nossa família, são algumas das características que destaco deste modelo, que facilmente ajudam a perceber o quanto pode ser transformador das nossas relações. 

E a Parentalidade Consciente não é possível sem nos “trabalharmos” a nós. A necessária mudança de estilo de vida; de trazer a nossa mente, que tanto vagueia, para o aqui e o agora; de procurarmos adotar uma postura de curiosidade face às coisas, ao invés de saltarmos para julgamentos e juízos de valor, não só tornam o  Mindfulness como vital para a prática de uma Parentalidade Consciente, como também detentor do poder de transformar todas as nossas relações, a nossa qualidade de vida e a pessoa que somos. 

Não é possível falar em Parentalidade sem considerar as primeiras experiências mãe-bebé. Aqui, a área da Amamentação e Introdução Alimentar assume naturalmente um papel de destaque. Poder estar na posse de informação fidedigna, preparar-se para fazer face a possíveis dificuldades e poder contar com acompanhamento ao longo de todo o processo, pode fazer efetivamente toda a diferença. Tinha consciência da sua importância, mas confesso que só depois de passar por esta fase, percebi que não tinha a verdadeira noção da sua dimensão. E o sentir na pele trouxe consigo a vontade de ajudar outras famílias nesta fase tão desafiante.      

A Parentalidade pode ter desafios ainda maiores. Numa fase em que temos um ser que depende de nós para tudo, sentirmo-nos incapazes de tomar conta de nós próprias, é absolutamente avassalador. A Depressão Pós-Parto pode bater à porta de qualquer família, e trazer consigo uma nuvem negra para uma fase que sonhávamos ser de céu limpo. A culpa de se sentir assim, quando “devia estar” feliz, tem um potencial de destruição enorme, que vai para além da mãe. Ele estende-se à relação entre o casal e até mesmo à relação com o próprio bebé. Quanto mais rápida for a intervenção, melhor o prognóstico, sendo importante estar atento uma vez a sintomatologia começa muitas vezes a surgir ainda durante a gravidez. 

Das experiências mais avassaladoras para quem deseja e anseia ter um filho, é passar por uma Perda Gestacional. Muitas vezes sem causas conhecidas, por vezes na primeira gravidez (em que os dados apontam para uma maior prevalência), outras vezes nas gravidezes seguintes ou em casos de aborto de repetição, em que o sentimento de perda acompanha o casal, a perda gestacional é um luto que reclama o seu espaço para ser chorado, processado e integrado na história de vida. Conseguir reorganizar-se emocionalmente depois de uma perda desta natureza, é de extrema importância para o bem-estar do casal e de cada um dos seus elementos separadamente.